Sou um ex-usuário de substâncias e, com muita gratidão, posso dizer que estou sóbrio há 29 anos. Esse caminho não foi fácil, mas a cada dia que passei sem recaídas, percebi que a recuperação valeu muito a pena.
Quando decidi procurar o apoio do programa de Alcoólicos Anônimos e da Pastoral Sobriedade, percebi que a sobriedade não é uma meta única, mas um processo contínuo. Eu estava ciente de que não se tratava apenas de evitar recaídas, mas de aprender a viver com a consciência de que, como qualquer pessoa que sofre de dependência química, o desafio seria diário. E foi assim que aprendi a viver “um dia de cada vez”.
No início, a luta era mais difícil. Eu sabia que, para me manter sóbrio, precisava evitar ao máximo situações que me expusessem ao álcool ou outras drogas. Quando estava em ambientes onde o consumo de substâncias estava presente, me afastava imediatamente. A decisão de me recuperar envolvia afastar-me de ambientes de risco e focar exclusivamente na minha saúde física e mental. No entanto, com o tempo e a experiência, aprendi a me proteger melhor. Hoje, consigo conviver com pessoas que bebem, mas sempre com muita cautela.
Eu sou um usuário em recuperação e, para mim, isso significa ter a consciência constante do que está ao meu redor e de como minhas escolhas podem impactar meu processo. A experiência me ensinou a identificar os sinais de risco e a me retirar de situações que possam ser prejudiciais. No entanto, isso não significa que o caminho tenha sido fácil. Ser vigilante com as minhas atitudes e com os ambientes onde me encontro tem sido uma lição importante. Quando vejo que o álcool está alterando o comportamento das pessoas ao meu redor, eu me retiro. Isso se tornou uma questão de cuidado comigo mesmo.
O mais importante dessa jornada de recuperação, e algo que aprendi com o tempo, é que a minha história não é sobre o que as pessoas ao meu redor fazem, mas sobre o que eu escolho para minha vida. Sei que, para me manter sóbrio, preciso estar consciente de que sou o responsável pelas minhas ações e decisões. Não me preocupo mais com o comportamento dos outros, mas com a minha saúde. Ao longo dos anos, aprendi a diferenciar os ambientes, a me proteger e a lidar com as dificuldades sem que elas me derrubem. A minha decisão de viver bem, sem as drogas, me trouxe uma paz interior e uma nova perspectiva sobre a vida.
Viver um dia de cada vez me ensinou a dar valor a cada conquista, por menor que ela pareça. Eu nunca tive uma recaída e, a cada dia, agradeço pela oportunidade de continuar a minha recuperação. Para mim, isso não é apenas sobre abstinência, mas sobre ser uma pessoa melhor, estar mais em paz comigo mesmo e com o mundo ao meu redor.
Se eu pudesse dar um conselho a alguém que está começando sua jornada de recuperação, diria: a recuperação é possível, mas ela exige autoconhecimento, paciência e muito amor próprio. Por isso, sigo em frente, com gratidão, porque sei que a jornada não acabou, mas que a cada passo, estou mais perto de ser a melhor versão de mim mesmo.
Sou um privilegiado por hoje poder ajudar, através da minha profissão, pessoas que passaram por situações semelhantes à minha, orientando-as na jornada da recuperação. O meu sonho é que Itaboraí tenha um local digno e eficaz, que acolha pessoas com dependência química, proporcionando-lhes a oportunidade de recomeçar e viver uma vida mais saudável e plena.
Antônio José Barreto Lisboa, mais conhecido como Dedeko Lisboa, 62 anos, casado, pai de três filhas e avô de quatro netos. Consultor em dependência química, terapeuta e psicanalista.