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Colégio Estadual Visconde de Itaboraí: uma referência da História da educação na cidade (1938-2024)

Texto do Prof. Dr. Gilciano Costa

A história do Colégio Estadual Visconde de Itaboraí, conhecido carinhosamente como CEVI, possui como marco inicial o Decreto Estadual nº 423 de 13 de junho de 1938. Esse documento representa o primeiro registro histórico da escola [1]. Seu nome simboliza uma homenagem ao Itaboraiense Joaquim José Rodrigues Torres, o Visconde de Itaboraí, considerado um dos expoentes da política imperial no século XIX.

O funcionamento das atividades educacionais do CEVI, no período de 1938 a 1949, ocorreu em um prédio da Prefeitura Municipal, localizado onde está, atualmente, a OAB de Itaboraí. Foi nesse prédio que atuou a primeira diretora da escola, a professora Hilda Povoas [2].

Foi em um contexto de crescimento populacional e de uma série de ações em prol do progresso da cidade, somada à expansão dos Grupos Escolares pelo Estado do Rio de Janeiro, que o Prefeito João Augusto de Andrade doou ao Governo do Estado, no dia 15 de abril de 1947, uma área de terras com a superfície de 15.300,00 m², situada a rua Dr. Macedo, para ser construído um prédio que abrigasse uma grande unidade de ensino [3].

O jornal Folha de Itaboraí publicou que o então Governador Edmundo de Macedo Soares já tinha autorizado a construção desse prédio e que em janeiro de 1949 iniciariam as obras. Em 1950, o citado prédio, exposto na imagem desta publicação, foi inaugurado pelo Governador Macedo com a nomenclatura de Grupo Escolar Visconde de Itaboraí, conforme projeto de lei nº 126 da Assembleia Legislativa [4].

Vale destacar que os grupos escolares representavam a institucionalização da escola primária em um contexto de expansão do ensino público. Eram projetos conduzidos, principalmente, pelo poder público estadual e estavam vinculados às expectativas de desenvolvimento econômico, de progresso, de modernização e de manutenção do regime vigente da época. Em Itaboraí, assim como em diferentes lugares no Brasil, políticos locais, intelectuais, reformadores e profissionais da educação se uniram em prol da implementação desse projeto [5].

Em 1951, como parte integrante da Campanha Nacional de Educandários Gratuitos (CNEG), o Ginásio Alberto Torres foi inaugurado nas instalações do Grupo Escolar Visconde de Itaboraí. É importante ressaltar que a Professora Laura dos Santos Cid foi a primeira Diretora tanto do Grupo Escolar Visconde de Itaboraí, assim como do Ginásio Alberto Torres. Dessa forma, foi no prédio antigo do CEVI que foi inaugurado a primeira escola primária pública, no formato de Grupos, e o primeiro ginásio de Itaboraí [6].

No ano de 1976, o CEVI iniciou sua ampliação, com a instalação da 5º série, como forma de proporcionar aos seus alunos a continuidade de seus estudos. Em 1980, foi a primeira escola pública a implantar o 2º grau no município, o que gerou uma procura por matrícula consideravelmente maior do que a quantidade de vagas oferecidas. Na época, a escola possuía 16 salas, passando a funcionar em 4 turnos. A partir de 1984, a situação se agravou e a escola não atendia mais a demanda de matrículas. Nos períodos de inscrições, filas enormes eram criadas nas ruas que davam acesso à escola [7].

Em reação a esse quadro, a comunidade escolar iniciou uma série de reivindicações para que a escola fosse ampliada. Diversas solicitações relatando detalhadamente esse contexto foram encaminhadas para as autoridades estaduais. Reuniões com pais, estudantes, ex-alunos e autoridades locais com representação na Assembleia Legislativa foram realizadas. As mobilizações ganharam dimensão ao serem noticiadas em diversos jornais [8].

Devido a uma forte pressão dos alunos do Colégio com o poder público local, realizando manifestações na Câmara Municipal e na Prefeitura em busca de apoio na ampliação da escola, o Prefeito da época, João Batista Cáffaro, cedeu madeirites e funcionários para adaptar algumas salas de aula no pátio do Colégio. Contudo, essa iniciativa foi paliativa e não solucionou os problemas, haja vista que a escola pleiteava a construção de mais 10 salas de aula [9].

Como a Secretaria de Estado de Educação (SEE) não atendia as solicitações da comunidade escolar, a insatisfação e indignação cresciam cada vez mais. Assim, diversas comissões foram formadas – com representações dos pais, dos estudantes e dos profissionais da escola – e encaminhadas para pressionar a Assembleia Legislativa. Devido a toda essa mobilização, o Governo do Estado assumiu o compromisso de criar mais 10 salas e em 1986 realizou a análise da área não construída para que as obras fossem iniciadas [10].

Passados alguns meses, a comunidade escolar foi pega de surpresa, pois o Governo do Estado estava construindo um Centro Integrado de Educação Pública (CIEP) na área destinada para construir as 10 salas. Como o terreno pertencia ao Colégio e a necessidade por ampliação de seus espaços se mantinha, a comunidade escolar iniciou nova mobilização para pressionar o Estado, administrado pelo governador Moreira Franco, com o objetivo de anexar o CIEP 254 ao Colégio Estadual Visconde de Itaboraí. Devido a toda essa luta, a mobilização obteve êxito e o CIEP foi incorporado, em 1988, logo após o término das obras [11].

Assim sendo, o Colégio Estadual Visconde de Itaboraí se tornou de direito, e fruto de uma árdua conquista, o maior complexo educacional da cidade e um dos maiores do Estado do Rio de Janeiro. Com o passar dos anos e em função de ter se tornado uma referência de ensino na cidade, o CEVI chegou a ter, em 1999, cerca de 4000 alunos, distribuídos em 103 turmas nas seguintes modalidades da época: Educação Infantil, Alfabetização, 1º a 8º série e Ensino Médio com os cursos de Formação Geral, Contabilidade e Normal [12].

Em relação às eleições diretas para a direção, o ano de 1987 é um marco na história da escola. Isso porque, em um contexto de redemocratização pós regime militar e construção do Estado de Direito, a comunidade escolar do CEVI foi pioneira novamente no município, visto que, por conta própria, implementou internamente um projeto de eleição, tendo a Professora Suely Lopes da Silva como vencedora desse pleito eleitoral, tornando-se assim, a primeira diretora eleita do CEVI [13].

A nomenclatura da escola foi sendo alterada de acordo com as modificações legais federais e estaduais da educação. Assim, de Grupo Escolar, virou Escola Estadual e, por fim, em janeiro de 1983, tornou-se Colégio Estadual Visconde de Itaboraí [14].

O CEVI possui em seu histórico uma série de projetos que envolvem diretamente a comunidade escolar, entre eles destacam-se os seguintes: Festival de Danças, criado em 1998; Festival de Grafite; eleição da “Garota CEVI”; projetos das Festas Juninas; peças teatrais; exposições artísticas; projetos desenvolvidos na biblioteca; uma série de Campeonatos Esportivos; Pré-Vestibular Comunitário, que funcionou entre os anos de 2001 a 2012; Grêmio Estudantil; Evento da Consciência Negra criado em 2016 e as apresentações da Banda da escola. Além disso, a escola tem como prática a realização de concursos internos, como os concursos de poesias, de desenhos, a elaboração da bandeira (1991) e a composição de seu próprio Hino (2007) [15].

Por fim, importante ressaltar que a continuidade do histórico de êxitos das mobilizações do CEVI, depende diretamente da sensibilidade e vontade de lutar de todos da comunidade escolar. Por diversas vezes a escola enfrentou diferentes problemas, mas se manteve unida, impedindo assim sua fragmentação. Em momentos distintos, tentativas de municipalização do prédio antigo ocorreram, mas a Comunidade escolar SEMPRE se posicionou contrária. Essa luta deve ser eterna e contínua, pois o “Prédio Antigo” e o “Brizolão” representam espaços que se complementam, seja pelo caráter educacional, cultural e histórico social da escola. Durante todos os seus anos de funcionamento, o CEVI conseguiu manter sua característica marcante de ser um espaço educacional referencial de Itaboraí e de luta em defesa da Educação Pública e de qualidade.

Fontes e bibliografia:

[1] Acervo do Colégio Estadual Visconde de Itaboraí.

[2] Informações extraídas do Folheto comemorativo do aniversário da escola no ano de 1999 e do diálogo realizado, em junho de 2003, entre a Professora Nelcina Colombini e a ex-aluna, e ex-profissional da escola, Dona Wilka Celimene. Agradeço a saudosa amiga Nelcina por me disponibilizar os escritos desse diálogo.

[3] Escritura pública de doação, nº 2533, folha nº 10 do livro 3/G de 17 de julho de 1947. Cartório do 2º ofício em Itaboraí.

[4] Folha de Itaboraí, 2 de dezembro de 1948; Diário Carioca, 20 de agosto de 1948.

[5] SOUZA, Rosa Fátima de. Os grupos escolares e a história do ensino primário … Revista de Educação Pública, Cuiabá, UFMT, v. 17, n. 34, maio-agosto, 2008a, p. 273-284.

[6] Folha de Itaboraí, 5 de julho de 1951. Agradeço a Alexandra Barbosa Alves, responsável pelo Centro de Memória de Itaboraí, e ex-aluna da escola, pela gentileza em me conceder as matérias do Jornal Folha de Itaboraí utilizadas nesse texto. Importante afirmar que a gratuidade em cursar o ginásio Alberto Torres foi confirmada por Zelinda Menezes Costa em entrevista realizada no dia 08/06/2017. Zelinda é ex-aluna do Grupo Escolar Visconde de Itaboraí e foi uma das estudantes integrantes da primeira turma do Ginásio Alberto Torres. Zelinda também é a mãe do historiador autor deste texto.

[7] Folheto comemorativo do aniversário da escola no ano de 1999; MONTEIRO, Maria de Lourdes de Oliveira; SILVA, Cleide Lopes da. Relatório encaminhado pela Direção do CEVI a Coordenadoria Regional Metropolitana IX.

[8] MONTEIRO, Maria de Lourdes de Oliveira; SILVA, Cleide Lopes da. Op cit.

[9] Idem.

[10] Idem.

[11] Idem; Decreto Estadual nº 11032 de 13 de março de 1988.

[12] Folheto comemorativo… 1999. Op. cit.

[13] Projeto da eleição de 1987. Acervo Suely Lopes da Silva.

[14] Decreto Estadual nº 6497 de 13 de janeiro de 1983.

[15] Folheto comemorativo do aniversário da escola no ano de 2008.

Gilciano Menezes Costa é formado em História pela UFF, com Mestrado e Doutorado pelo PPGH-UFF. Professor de História, Filosofia e Sociologia na rede estadual de ensino em Itaboraí. Idealizador do projeto História de Itaboraí e Região.

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