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Ser mãe não vem com Manual

Texto de Vivih Reis

De todas as missões que a vida me deu, ser mãe é, com certeza, a mais desafiadora de todas. Quando a criança nasce, ela deixa de estar 100% sob os cuidados da mãe. A partir daquele momento, ela passa a ter papéis que uma mãe não lhe deu, passa a ser, além do seu amado filho(a), o amado neto(a), o amado(a) sobrinho(a), e a lista só cresce conforme eles crescem. Não podemos mais protegê-los como antes, e eles estão expostos a tudo: dor, decepção, tristeza, alegria, amor.

Creio que a parte mais estranha de toda essa jornada seja o ponto principal, aquele que não passa pela cabeça de nós, mães, pois estamos sempre desesperadas para atender todas as necessidades, que esquecemos desse ponto crucial – nossos filhos são seres diferentes e únicos, e como únicos, nem todo o acolhimento, por mais boa que seja a intenção, será necessário. Às vezes, as necessidades que tanto pensamos que eles têm, não são realmente necessárias, e isso, de certa forma, é assustador, pois o medo de eles se machucarem ou algo ruim acontecer nos rodeia e sufoca. O medo do desconhecido é o ponto em que precisamos entender: demos à luz seres desconhecidos com necessidades diferentes, alguns pontos mais necessitados e outros menos, e isso não vem escrito em um manual “Para Boas Mães”.

Eu conheci dois desconhecidos, primeiro uma menina e depois, três anos depois, um garoto. Aprendi com os dois que a necessidade de um não era a mesma do outro. O garoto comia de tudo que eu fazia, era agitado e criativo, forte e competitivo, e suas ambições o levaram a caminhos totalmente opostos aos meus planos, às necessidades que eu achei importantes para ele. A minha menina, com seu jeito teimoso e calado nos círculos sociais, sempre observando as coisas de perto, curiosa, e mesmo com todas as dificuldades que tivemos no início, aos poucos, está conseguindo achar o seu caminho, mesmo que a velocidade seja diferente. A companhia que os dois me ofereceram me ensinou a respeitar os indivíduos por suas diferenças e próprias complexidades, me ensinou que ser mãe, às vezes, é abrir mão daquela assustadora necessidade de protegê-los e cuidar a todo minuto, porque no final, eles sempre acabam encontrando o seu caminho.

Vivih Reis, mulher preta, Presidente do Coletivo Mães de Itaboraí, Mobilizadora Social, Defensora dos direitos humanos, Militante antirracista, mãe de Yuri e Lara, filha da Dona Socorro e de toda uma ancestralidade negra.

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