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Asfalto que apaga história: a polêmica intervenção nas ruas históricas de Itaboraí

Ao percorrer pelas ruas de pedra e observar a arquitetura em algumas cidades históricas, é comum sentir-se transportado para o período colonial. Em Itaboraí, o centro da cidade é um verdadeiro museu a céu aberto, repleto de lições de história e cultura. Contudo, nos últimos tempos, a paisagem está passando por mudanças controversas.

No final de janeiro (2024), as antigas ruas de paralelepípedos, que compõe a cidade desde a década de 50 e faz parte dessa narrativa histórica, estão sendo encobertas por asfalto. A prefeitura de Itaboraí iniciou obras de implementação asfáltica em vias próximas do centro da cidade, incluindo a Rua Dr. Pereira dos Santos e a Rua Dr. Macedo, ambas integrantes do centro histórico de Itaboraí.

Contudo, moradores estão expressando sua insatisfação. Ruas que necessitam urgentemente de asfalto permanecem negligenciadas, enquanto aquelas que preservam a história da cidade estão sendo descaracterizadas. A comunidade, indignada com as intervenções, pede por uma política de valorização dos paralelepípedos históricos, que fazem parte da identidade do município.

A aposentada Maria de Lourdes, 67 anos, residente na região, comenta: “A falta de asfalto aqui em Itaboraí é grande. Por que, ao invés de asfaltar onde realmente precisa, estão asfaltando as ruas de paralelepípedo? Isso não faz sentido.”

As ruas que estão sendo asfaltadas não fazem parte, do ponto de vista jurídico, dos patrimônios sob a tutela do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, (IPHAN). No entanto, essas ruas possuem valor simbólico e histórico na cidade. A substituição do calçamento atual pelo asfalto impacta diretamente o patrimônio histórico, descaracterizando as edificações que o compõem.

A professora de história Izabel Cristina da Cruz, moradora de Itaboraí, destaca que essas alterações interferem diretamente na história do município. Itaboraí possui um conjunto arquitetônico tombado pelo Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (INEPAC) como: a Igreja Matriz, o Casarão de Visconde de Itaboraí e a Casa da Câmara. Os outros patrimônios que não são tombados, mas fazem parte da identidade da cidade, também são impactados. A preservação desse patrimônio é crucial para manter a identidade cultural e as tradições locais. Assim como as cidades de Ouro Preto (MG), Salvador (BA) e Paraty (RJ), que preservam as riquezas de suas ruas de paralelepípedos, Itaboraí carrega a herança dessa história, que agora está ameaçada pelo asfalto comum.

Segundo uma pesquisa realizada em 2017 pelo “Caderno Metropolitano”, elaborado pela Câmara Metropolitana do Rio de Janeiro, 80,71% das vias de Itaboraí ainda carecem de pavimentação. Diante desse cenário, a pergunta que fica é: por que a prefeitura escolheu asfaltar as ruas de paralelepípedos que contam a história da cidade, em vez de priorizar aquelas mais carentes e distantes do centro?

Buscamos respostas junto à prefeitura, mas até o fechamento desta matéria, não obtivemos retorno. A polêmica intervenção nas ruas históricas de Itaboraí permanece sem esclarecimentos, gerando questionamentos sobre a preservação do patrimônio e o direcionamento das ações públicas.

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