Sou itaboraiense da gema, nasci em São José, no 6º distrito, vivi e vivo Itaboraí desde 1945. Um Itaboraí que poucos tinham energia elétrica, transporte, asfalto, hospital. A diversão da garotada era jogar futebol, não precisava de muita coisa para se divertir, a gente valorizava muito as pequenas coisas, andávamos muito a pé, era comum as pessoas andarem descalças, ter um cavalo era luxo, ir à Niterói era um passeio.
Eu estou falando de um Itaboraí recente, eu estou vivo para contar essa história, me orgulho de ter participado e contribuído de tantas mudanças nessa cidade.
nessa época, fazer medicina era utopia, uma coisa impossível, era para rico, estava muito longe da minha realidade, quem quisesse estudar tinha que pelejar muito, aqui quase não tinha escola, era tudo longe, mas mesmo com tantas dificuldades eu com ajuda da minha família conseguir.
Eu trabalhei na lida (Trabalho no campo), trabalhei em cima de cavalo, burro, carregando as coisas que meu pai plantava, estudava de manhã e de tarde, vinha correndo para ajudar meu pai no comercio da família, uma pequena venda.
A gente era feliz com o simples, tudo era novidade, o que a vida dava a gente aproveitava. Eu estava sempre envolvido com esporte, já fazia política desde muito jovem e não sabia, mobilizando as pessoas para jogar futebol, conseguindo material e mão de obra para fazer a cobertura da arquibancada do estádio Alzirão em Itaboraí, consegui refletores, tornando-se possível jogar a noite, porque até então não era possível. Isso na cidade era novidade, hoje é normal, talvez por ser normal a pessoa não consiga imaginar o valor que tem, é como um filho pequeno que fica entusiasmado com coisas consideradas bobas para nós, mas ele é criança, está começando a vida. Eu presidir a Liga Desportiva de Itaboraí, projetei jogadores, coloquei o time da cidade na Federação, disputando campeonato, criei a Associação Desportiva Itaboraí, começamos disputar campeonato profissional no estado, jogamos no estádio do Maracanã, levamos ônibus para o maracanã, estendemos a bandeira de Itaboraí na arquibancada. Quem viveu valorizou, porque viveu uma Itaboraí que não existia isso. Que experiência! Por isso, não devemos ter inveja do poder aquisitivo de ninguém, existe experiência que são impagáveis, pois vejo, que tem pessoas quem tem tudo, mas não consegue valorizar as pequenas conquistas, antes da gente, existiu histórias, pessoas que contribuiu para estarmos onde estamos, essa busca de sempre querer mais e mais, está adoecendo as pessoas, que não conseguem ficar feliz com o que tem, sempre precisando de mais e perdendo a razão de viver, buscando prazer nas drogas, parece que nunca o que tem é o suficiente. A gente precisa se adaptar, aproveitar o máximo aquilo que temos, é como a história do limão, ele é azedo, mas a gente faz uma limonada e faz ficar doce. Assim tem que ser a vida, temos que aproveitar o que temos, saber transformar, melhorar e não deixar de viver, aproveitar a vida que temos.
Eu sou do tempo em que Itaboraí não tinha praticamente nada, eu vivi isso, participei dessa evolução, contribui como morador da cidade para que Itaboraí tivesse coisas, lutei como prefeito por 3 vezes para que Itaboraí fosse reconhecida, para que tivesse o primeiro hospital público, andei em terra batida, mas construir mais de 156.127 km de asfalto, (quase equivalente à distância entre Itaboraí ao município de Rezende), eu vivi e vivo aqui desde sempre, sou cidadão Itaboraiense, aqui me tornei esportista, doutor, empresário, pai, avó e político. Trago nessa minha bagagem, muita experiência e gratidão. Itaboraí faz parte de mim e eu faço parte de Itaboraí.
Texto de Sergio Soares