A fotografia em destaque foi realizada, em 1925, na antiga Fazenda Macacu. Na imagem é possível observar (da esquerda para direita) algumas ruínas de antigas edificações, como a do Convento de São Boaventura, da Câmara Municipal e da Igreja Matriz de Santo Antonio de Sá [1]. Por essa região ter sido a sede da Vila de Santo Antonio de Sá, essas construções exerceram relevância significativa no exercício das funções religiosas, sociais, políticas e culturais nesse local, durante o período entre o final do século XVII e início do século XIX. [2].
Conforme mencionou Monsenhor Pizarro, o povoamento dessa vila se desenvolveu em torno da Freguesia de Santo Antonio de Cassarébu (Caceribu) e é consequente à fundação da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro (1565) [3]. Desmembrada da Freguesia da Candelária pelo alvará de fevereiro de 1647, a Freguesia de Santo Antonio de Caceribu, segundo o pesquisador fluminense José Matoso Maia Forte, “foi […] a primeira das criadas no recôncavo e, mais antiga do que ela, só se apontava a da Sé do Rio de Janeiro”. Sua criação representa uma estratégia portuguesa frente às ameaças estrangeiras e dos nativos [4].
O pesquisador Alberto Ribeiro Lamego argumentou que a penetração dos colonos na região se deu pelo rio Macacu. Segundo ele, “ao longo de suas margens é que se foram alinhando engenhos e fazendas e por eles é que descia para o Rio de Janeiro a produção agrícola do recôncavo” [5]. José Matoso Maia Forte apontou que a concessão de sesmarias nos sertões de Macacu “começou logo após a vitória das armas portuguesas contra os franceses e tamoios, em 1567,” e que a primeira sesmaria bem caracterizada foi a de Miguel de Moura. Monsenhor Pizarro, de forma pioneira, constatou que Moura era escrivão da Fazenda Real e que este doou, em 1571, essas terras aos Jesuítas, sendo vendidas posteriormente (parte delas) para Manoel Fernandes Ozouro. [6].
O fluxo crescente de pessoas e toda movimentação desenvolvida em torno dessa região, contribuiu para que o governador da capitania do Rio de Janeiro, Artur de Sá e Menezes criasse, em cinco de agosto de 1697, a Vila de Santo Antonio de Sá. Ele próprio veio à região formar a vila. Diante desse fato, em caráter de homenagem ao governador, a nova vila teve o termo “Sá” acrescentado em sua denominação [7]. A partir daí a Freguesia de Santo Antonio de Caceribu passou a ser denominada de Freguesia de Santo Antonio de Sá [8].
De acordo com José Matoso Maia Forte, em 1778, a vila era composta por seis freguesias: Santo Antonio de Sá (sede da Vila); Santíssima Trindade; Nossa Senhora da Ajuda de Cernambitigba (Guapi-mirim); Nossa Senhora da Conceição do Rio Bonito; São João Batista de Itaboraí e Nossa Senhora do Desterro de Itambi [9]. A vila, com suas seis freguesias, possuía uma dimensão territorial tão extensa que, ao ser desmembrada entre o final do século XVIII e durante boa parte do século XIX, se dividiu nos atuais municípios de Rio Bonito, Cachoeiras de Macacu, Itaboraí, Tanguá e Guapimirim.
O processo de fragmentação territorial da vila se iniciou, em 1772, com a elevação do Aldeamento de São Barnabé em vila, tendo como denominação de Vila Nova de São José Del Rei. Sua criação se insere no contexto das políticas assimilacionistas da coroa portuguesa, que intencionavam a conversão dos indígenas em agentes da colonização e sua integração na sociedade colonial [10]. Na última década do século XVIII, a Freguesia de Nossa Senhora do Desterro de Itambi também foi anexada a essa vila [11].
Em 1789, no contexto das reformulações das configurações político-territoriais do Recôncavo da Guanabara, Magé foi elevada a condição de vila e a região de Nossa Senhora da Ajuda de Guapi-mirim se tornou uma de suas freguesias [12].
A fragmentação territorial da Vila de Santo Antonio de Sá se intensificou ainda mais, visto que, em 1833, a freguesia de maior dinamismo econômico (São João Batista de Itaboraí) também foi elevada a condição de vila. Diferente das interpretações que superdimensionam as “Febres de Macacu” [13] como causadoras dessa fragmentação da Vila de Santo Antonio de Sá, e até mesmo de sua decadência, a análise presente se baseia na ideia de que a elevação de Itaboraí está associada, sobretudo, ao contexto da economia e da política provincial fluminense que entrava em um período de rápida expansão, na medida em que, nesse período, essas regiões do Recôncavo se tornaram uma importante área de ocupação agrícola, repercutindo na criação de vários novos municípios, incluindo nesse contexto Itaboraí [14].
Diante dessa conjuntura de nova divisão civil e judiciária da Província do Rio de Janeiro, a Vila de São João de Itaborahy (Itaboraí) foi criada, sendo composta pela Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Rio Bonito, pela incorporação da Vila Nova de São José Del Rei e pela Freguesia de São João Batista de Itaboraí, sendo esta a sede da vila [15]. No ano de 1868 a sede administrativa da Vila de Santo Antonio de Sá foi transferida para a Freguesia de Santíssima Trindade [16]. Anos depois, em 1875, a Freguesia de Santo Antonio de Sá foi anexada a Vila de São João de Itaborahy [17]. Da região que restou da antiga Vila de Santo Antonio de Sá, em 1877, passou a se denominar de Sant’Anna de Macacu [18].
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Fontes e Bibliografia:
[1] A antiga Fazenda Macacu também foi denominada de Fazenda Nossa Senhora das Dores de Macacu, ficando em posse da Ordem Beneditina até 1930. A fotografia em destaque é parte integrante do Acervo do Mosteiro de São Bento.
[2] A Vila de Santo Antonio de Sá também ficou conhecida como Vila de Macacu.
[3] ARAUJO, José de Souza Azevedo Pizarro. (Monsenhor Pizarro) O Rio de Janeiro nas visitas pastorais de Monsenhor Pizarro: Inventário da arte sacra fluminense. 1753 – 1830. RJ. INEPAC. 2009. Vol. II, p.143.
[4] FORTE, José Matoso Maia. Vilas fluminenses desaparecidas. Revista da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro. Tomo XLIV.1937. p. 37.
[5] LAMEGO, Alberto Ribeiro. O Homem e a Guanabara. RJ: IBGE/Conselho Nacional de Geografia, 1964. p. 193.
[6] Forte Op. Cit. p. 35-36; ARAÚJO, José de Souza Azevedo Pizarro. Memórias Históricas do Rio de Janeiro. RJ. Edição original, 1820, Imprensa Régia. Livro II. p. 184.
[7] Auto de ereção da Vila de Santo Antonio de Sá.
[8] ARAUJO, José de Souza Azevedo Pizarro. Memórias Históricas do Rio de Janeiro. Op. Cit., p 196.
[9] FORTE, José Matoso Maia. Op. Cit., p. 43.
[10] Devido a uma revolta dos índios na Aldeia de São Barnabé, ocasionada pela reação da tomada de suas terras pelos colonos e pelas contínuas tentativas desses em utilizar o trabalho indígena como mão de obra escrava, o Vice Rei do Brasil, Marquês de Lavradio, elevou, em 1772, a aldeia em vila. Foi a única Aldeia da capitania do Rio de Janeiro a ser elevada em Vila. Tal fato representou uma das ações da política indigenista pombalina nos moldes da legislação conhecida como Diretório. Para saber mais ver: CORRÊA, Luís Rafael Araújo. A aplicação da política indigenista pombalina nas antigas aldeias do Rio de Janeiro: dinâmicas locais sob o Diretório dos índios (1758-1818). Dissertação de Mestrado. Niterói: UFF, 2012. ARAUJO. Op. Cit., p. 111-113.
[11] ARAÚJO, José de Souza Azevedo Pizarro. Memórias Históricas do Rio de Janeiro. RJ. Op. Cit., p. 110-114.
[12] LISBO, Balthasar da Silva. Annaes do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro. 1835. p. 163-164.
[13] Termo utilizado para designar algumas febres endêmicas, como malária e cólera, que se desenvolveram na primeira metade do século XIX, sobretudo a partir de 1829, nas proximidades do rio Macacu. Para saber mais sobre as problematizações que realizo em relação a essa temática ver: COSTA, Gilciano Menezes. A escravidão em Itaboraí: uma vivência as margens do rio Macacu. Dissertação de Mestrado UFF. 2013.
[14] GOUVÊA, Maria de Fátima Silva. O império das províncias. Rio de Janeiro, 1822-1889. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira/FAPERJ, 2008. p.32.
[15] A freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Rio Bonito foi elevada a Vila em 1846. Coleção das leis do Império do Brasil, 1846; Com a anexação da Vila de São José Del Rei pela Vila de São João Batista de Itaboraí, a Freguesia de São Barnabé foi incorporada pela Freguesia de Nossa Senhora do Desterro de Itambi. Coleção das leis do império do brasil, 1833, p.28.
[16] Lei Provincial nº 1379, 1868.
[17] Decreto imperial nº2193, 1875.
[18] FORTE, José Matoso Maia. Op. Cit., p. 63.
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Gilciano Menezes Costa é formado em História pela UFF, com Mestrado e Doutorado pelo PPGH-UFF. Professor de História, Filosofia e Sociologia na rede estadual de ensino em Itaboraí. Idealizador do projeto História de Itaboraí e Região.
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